terça-feira, outubro 23

Os Sábios Ensinam - Jovens máquinas de consumo

Imagine esta cena: você está parado diante de sua TV, e o que aparece na telinha é um comercial com jovens bonitos, em um belo dia de sol, namorando, rindo e curtindo a vida de um jeito que só eles sabem como fazer. Ao término da propaganda, aparece algo como: "a vida é hoje!", "aproveite agora" ou outro slogan qualquer que remeta a esta mesma idéia. Isto porque, o público-alvo dos comerciais é justamente os jovens, hoje a maior parcela entre os consumidores, já que, entre outros fatores, viajam mais, se divertem mais e, por conseqüência, gastam mais.

De olho neste filão, as campanhas publicitárias incentivam o imediatismo, a idéia de aproveitar a vida para não se arrepender do que podia ter sido e não foi. Elas apostam no comportamento de compra desenfreada, da compra por impulso, do consumo sem reflexão. É claro que nem todo jovem compra, gasta, viaja e se diverte porque simplesmente não pensa nas conseqüências. Mas é fato que, quanto mais jovem e inexperiente, mais facilmente se é influenciado a ter este tipo de comportamento.

Para especialistas, esta é uma realidade do mundo atual, diferente do passado, quando os jovens eram mais engajados e a sociedade também vivia um panorama distinto."Esta idéia de consumo faz parte de um mercado fast-food, onde tudo tem que ser feito, e rapidamente".

Este comportamento de consumo não se reflete apenas nas compras, mas no modo como os jovens encaram a vida hoje. "Note que se um bar novo abre todo mundo o consome até que apareça uma outra novidade. A juventude é levada pelas circunstâncias", ressalta. Este comportamento tem se refletido também nas relações interpessoais. "Hoje, até a fidelidade deles é circunstancial. Mantém-se um grupo de amizades e um relacionamento até o momento em que eles oferecem determinadas `vantagens´. Depois, joga-se fora e parte-se para outra".

Outra questão que pode desencadear este tipo de relação com as compras é a forma como o jovem encara os processos de consumo. Segundo o professor do Grupo de Estudos do Consumo do Departamento de Psicologia da UnB (Universidade de Brasília) Jorge Oliveira Castro, há dois tipos de consumo que devem ser levados em consideração: o por atributos utilitários, ligado à funcionalidade do produto e de que forma ele pode facilitar seu dia-a-dia; e o consumo por valores simbólicos - neste caso, relacionado ao status que o produto pode fornecer como identificação com determinado grupo de pessoas ou prestígio perante a sociedade. "É justamente este segundo parâmetro que tem tido valor para estes jovens", declara o professor.

Acredito que este comportamento também pode ser desencadeado pelas relações de grupo. É importante que o jovem esteja atento aos fatores que o impulsionam a comprar: "Muitas vezes alguém de sua turma aparece com determinada pulseirinha. Aí lá vai o jovem atrás de uma pulseira igual para ficar na moda".

Esta questão de auto-afirmação é muito perigosa porque, ao mesmo tempo em que pode desencadear um comportamento de consumo desenfreado, dependendo do tipo de grupo em que o jovem está inserido pode levá-lo a desenvolver ações muito mais prejudicais a sua saúde, como, por exemplo, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas. "Jovens suscetíveis têm muito mais chances de experimentar álcool e drogas do que os jovens de `cabeça feita´".

É muito fácil identificar um jovem consumista. "Geralmente eles querem freqüentar lugares populares e causar uma boa impressão. Assim, se vestem com roupas que seguem a última tendência, porque querem ver e ser vistos".

No Brasil, este comportamento é identificado em grande parte dos jovens. Segundo pesquisa elaborada pelo Instituto Akatu, com base em estudo realizado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) com jovens de 24 países dos cinco continentes, os jovens brasileiros estão no topo dos mais consumistas, à frente de jovens franceses, japoneses, argentinos e americanos. Dos 259 entrevistados, de nove regiões metropolitanas no país, 37% apontaram as compras como um assunto de muito interesse no dia-a-dia. Para 78%, a qualidade é o principal critério de compra, seguido pelo preço.

A ala masculina poderia dizer que apenas as jovens fazem parte desta pesquisa. No entanto, os números mostram que os rapazes têm contribuído para engrossar as estatísticas. A diferença é o destino que cada um deles costuma dar a seu dinheiro, seja ele de mesada ou salário. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos/Marplan em oito capitais brasileiras, os meninos costumam gastar mais com CDs, DVDs e eletrônicos. Eles também acessam mais Internet e passam mais tempo no computador do que elas, que ainda preferem destinar sua renda para roupas, sapatos e artigos esotéricos, entre outros artefatos.

Para o professor da UnB, no entanto, é importante destacar que o impulso consumista, em alguns casos, pode se tornar uma doença. Aí, é importante que as pessoas mais próximas aos jovens que apresentam este tipo de comportamento dêem orientação para tirá-los do mau caminho. Deve-se entender ainda quando isto é reflexo de outros distúrbios, como por exemplo depressão e ansiedade. "As mulheres brincam muito com esta questão: `estou deprimida e vou para o shopping´. Mas isso pode, de fato, tornar-se uma fuga", revela Castro. Isto porque euforia ao realizar as comprar é uma característica dos consumistas de plantão.

Vale o preço que se paga?

No fim das contas, você pode se perguntar, mas quanto custa essa brincadeira, já que andar na moda não é barato e, tampouco, estar nos lugares badalados? "Posso dizer que sai caro tanto para os jovens que trabalham para pagar suas dívidas como para os pais que bancam o consumo dos filhos". O jovem consumista é aquele que anda sempre endividado, no vermelho, usa todas as formas possíveis para pagar as contas e, ainda assim, não consegue frear o desejo de ter, de comprar. "Há casos, em que estes jovens mobilizaram a família toda, incluindo tios e avós, para ter o presentinho que tanto querem. Ou, quando trabalham, incorporam o limite (do cheque especial) ao seu salário sem pensar nos prejuízos futuros com o acréscimo dos juros".

Para estes jovens, ficam as seguintes dicas: "Antes de comprar, pare e se pergunte: eu preciso mesmo disso? Qual será o valor agregado disso para mim?". "Deixar os talões de cheque e cartões de crédito em casa são boas alternativas. Além disso, fazer listas de compras priorizando os elementos mais úteis também pode ajudá-los a se controlar antes de sair por aí gastando".

Não há estudos que façam ligação entre as diversas opções de pagamento que o consumidor tem acesso ao número de dívidas que ele pode fazer, certamente esta é uma alternativa utilizada pelo comércio para seduzir e incentivar as vendas. "Acredito, porém, que se o consumidor perguntar a si mesmo se precisa do produto ele poderá sair com qualquer opção de pagamento no bolso que não será levado a comprar por impulso. É preciso ter autocontrole em primeiro lugar".

quarta-feira, outubro 3

OS SÁBIOS ENSINAM - AMIZADE

Fortes vínculos unem verdadeiros amigos.
O que é um amigo? Alguém com quem você fala todos os dias? Alguém com quem você sai para tomar um café e falar sobre como passou o dia? O termo amizade não tem um significado aceito universalmente. Em certas culturas é usado com extrema facilidade, em outras, como na Rússia, amizade implica profundos laços emocionais mais importantes do que qualquer outro tipo de relacionamento.

A Torá dá ao termo amigo grande importância, segundo a obra "Sabedoria", de Ben Sira: "Um amigo fiel não tem preço; seu valor está além do que o dinheiro pode comprar". "Um amigo fiel é um abrigo seguro; aquele que o encontrar, terá encontrado um tesouro".

O amigo é uma mão estendida na hora certa. Ao definir os graus de profundidade de relacionamentos, a Torá diz "Seu amigo, aquele que é como se fosse sua própria alma". (Deut.13:7) .

O amigo verdadeiro é uma alma gêmea. Alguém que conhece o outro na profundidade de sua alma, em quem confia, com quem compartilha alegrias e tristezas através de um gesto, um sorriso, uma palavra. É difícil encontrar um amigo e, ao encontrá-lo, devemos preservá-lo como verdadeiro tesouro. A Ética dos Pais nos ensina que devemos "comprá-lo" com amizade, afeto, sinceridade, preocupação .

O Rebe Mendel de Kotz afirmava que cada indivíduo deveria ter pelo menos um amigo a quem pudesse contar todos os seus segredos, mesmo os mais íntimos. Até mesmo aqueles que nos envergonham, aquelas emoções ou idéias que são tão delicadas e íntimas que, ao expô-las, é como se revelássemos a nossa essência.

Para o Rabino Yehoshua Ben Korcha, "o que seu amigo realmente pensa sobre você" é uma incógnita que faz parte das sete dimensões do desconhecido. Talvez seu amigo esteja secretamente aborrecido com aquelas armadilhas nas quais você cai dezenas de vezes, prometendo a si mesmo não fraquejar mais. Se você soubesse exatamente a verdade sobre a atitude dele a seu respeito, sua amizade teria ainda o mesmo valor?
A amizade profunda, aquela na qual o amigo se sente tão próximo do outro, como se fosse uma segunda alma, implica uma certeza de compreensão que é uma das verdades do amor. Não é necessário esconder desse amigo os seus defeitos e fraquezas pelo temor de causar zombaria ou aversão. Esta intimidade com o amigo é possível sem que ele nos exponha a qualquer humilhação, pois "todos os erros estão cobertos pelo amor".

A palavra "chaver", amigo, em hebraico, faz do mesmo um companheiro do seu próprio ser. Um companheiro solidário na jornada da vida, nesta "aventura intelectual" que é a descoberta do seu "eu", na qual se está plenamente envolvido. Na busca pelo "eu", o amigo ajuda o outro a se elevar acima de suas próprias necessidades, suas limitações, que muitas vezes o fazem esquecer o porquê de sua existência.

O desafio essencial do homem é viver plenamente seu potencial. Caso contrário, segundo o Ari (Rabi Isaac Luria, cabalista de Safed, séc. XVI) a vida não passaria de uma morte camuflada. Ao vir para este mundo material, nossa alma se afasta - de uma forma ou outra - de sua verdadeira essência e a meta de nossas vidas é incorporar a sabedoria da alma.O rabino Shneur Zalman de Liadi ensina: "Mesmo que o mundo inteiro diga que você é grande, não o creia; talvez você seja o maior do mundo, mas ainda assim vive o desgaste do seu próprio ser". Diferentemente do amor entre um casal ou entre pais e filhos, a amizade não cega nossa percepção sobre o nosso amigo. O verdadeiro amigo vai, portanto, exigir que você viva sua própria vida em toda a sua plenitude. Ele o obrigará a ser você mesmo. Não permitirá que você se satisfaça com menos do que pode ser. "O homem que tem a sorte de ter um amigo, ouve-o clamar para que viva de acordo com suas potencialidades. E, como a sua amizade o faz elevar-se até sua verdadeira essência, cria-se um profundo laço entre os dois".

Existem também amizades perversas, pois está dito: "És amigo daqueles que são destrutivos" (Provérbios). Estas não visam o crescimento do amigo. Apenas lhe servem de cúmplice nas ações condenáveis, sem lhe prestar a mínima ajuda para que viva sua verdadeira dimensão interna.

A essência do homem está em seu intelecto, na sua mente - no seu pensamento, na neshamá, a parte de nossa alma ligada com o Divino. E isto salienta o fato de que a condição autêntica da amizade tem relação estreita com nossa mente.

O Talmud ensina: "Quando você abandonar um amigo"... Mas será que realmente abandonamos um amigo? De forma alguma! Nem em sonho! E segue o Talmud: "... separe-se, mas só se o propósito for um problema intelectual não resolvido". Querendo sua presença, seu amigo repensará sobre tal divergência e, assim, estará pensando em você. Isto irá uni-los numa cumplicidade definitiva. No ápice da separação, a esperança de um dia poder reencontrar o amigo para confidenciar um com o outro, cada um participando ao outro suas importantes descobertas, elevará o nível do vigor intelectual compartilhado. Pois está escrito: "Um homem afia a mente de seu amigo " (Provérbios 27:17).

Para entender a verdadeira dimensão da amizade é importante analisar-se a palavra melech, rei, em hebraico, composta das letras mem, lamed, e caf. Estas letras constituem a plena definição do homem: mem, da palavra moach, cérebro, inteligência; lamed, de lev, coração, sensibilidade; caf - de caved, os sentidos. Estes três conceitos correspondem aos três níveis de alma do homem: a neshamá, que tem como característica o pensamento, a compreensão superior; ruach, onde se alojam a emoção e nefesh, os instintos. A verdadeira liberdade é alcançada quando estes três níveis da alma do homem atuam em equilíbrio.

E, quando o ser humano alcança a plenitude nessas três esferas, tem perfeita consciência da hierarquia dos níveis do ser - ele é um rei, a quem se aplicam os mandamentos próprios dos reis. Os reis têm 30 privilégios, entre os quais a extraordinária felicidade de ter o direito de romper qualquer "barreira". Por isso o Talmud afirma que o verdadeiro amigo liberta o outro de todas as suas prisões internas, ao lhe abrir as portas de um universo de pura liberdade.

Por outro lado, o homem que vive aquém de sua plenitude - talvez por não ter um amigo que lhe exija seu desempenho máximo - é apenas um escravo, ao qual se aplicam todas as leis dos escravos. Vive "pobremente", preso a limites que não consegue superar. Apesar de lhe parecer muitas vezes ter uma vida muito louvável, esta vida, na verdade, anula-o.

A amizade é acima de tudo uma relação do intelecto. Juntos, os amigos vivem a mais audaciosa experiência intelectual. Pouco importa se um deles não compreende uma verdade; o outro a explicará, pouco importando também qual dos dois a entende ou deixa de entender.

A palavra moach, que designa a inteligência (literalmente, o cérebro), contém 48 facetas segundo o valor numérico de suas letras. Este número representa as 48 prerrogativas do sábio, de acordo com o Pirkei Avot, a Ética dos Pais. Quando é dito que "lhe são revelados os segredos da Torá", a quem mais isto se referiria, senão ao amigo? Se o ser humano vive a plenitude do seu ser, no nível da alma que Deus lhe deu, ele é um sábio, desde que um amigo lhe indique todos os novos atributos que deve adquirir.

Essa análise da primeira dimensão do homem - a inteligência - coloca a amizade no seu nível essencial, o da comunicação.A segunda dimensão do homem é sua sensibilidade, seu afeto, seu coração. O Pirkei Avot nos alerta que um bom coração é o que o homem deve permanentemente procurar, já que é o recipiente de todas as qualidades.

Um amigo não esmaga o outro por suas diferenças. Da forma mais gentil e hábil leva este outro a entender o que tem a lhe dizer. A sensibilidade está no mesmo nível da inteligência e estabelece o laço entre o conhecimento e o amor.

A terceira dimensão é a dos sentidos, transfigurados pela inteligência e sensibilidade, nessa fecundação de todos os níveis que definem o homem. Como a sensibilidade participa da ambição, que é um desejo como qualquer outro, um amigo pode muito bem intervir sobre a personalidade do outro, como nos dois outros níveis do ser, através de seu olhar lúcido e sincero.

A relação de amizade implica confiança, reciprocidade perfeita, sem que se façam contas. Um poderá ser mais forte que o outro, ou um poderá contar com o outro, depender do outro, mas deverá sempre haver reciprocidade. Os amigos devem "poder encostar-se um no outro", contar com o outro. A Torá diz que "Dois é melhor do que um, pois se um fraquejar, o outro o erguerá. Mas sofra pelo que estiver só, pois ao cair, não terá quem o reerga". (Eclesiastes 4:9-10).

A palavra hebraica para mão é yad uma das palavras em hebraico que definem a amizade é yedid, composta de dois yad, ou seja, "de mãos dadas". Com a intensidade da amizade, o sentimento de confiança se intensifica.

A amizade situa-se também além das relações de força, como as do mestre desatento, que derrama torrentes de verdades sobre uma alma frágil, que já não agüenta mais tantos novos conhecimentos. É uma doce e delicada relação, na qual cada um pode ter seu próprio ritmo e seus defeitos são perfeitamente tolerados.

A amizade pode chegar até o sacrifício da própria vida, para que o amigo viva e reine perfeitamente feliz. É uma escolha livre, preciosa e definitiva. Permite a confidência, por mais íntima que seja, sem temer nenhuma condenação, porque a pessoa se sente amada. Ela sabe dar e não mede o que recebe em troca. E anula qualquer distância.

A amizade entre o rei David e Jonathan, descrita no livro de Samuel, é considerada ideal - uma amizade na qual não havia cobrança, porém cada um dava o máximo de si próprio, naturalmente. Entretanto, como esse tipo de amizade é rara, devemos ser cuidadosos ao escolher nossos amigos.