segunda-feira, novembro 24

Os Sábios Ensinam - Rabiscos no silêncio


Folha em branco.
É onde tudo começa.

É estranho estar tão sozinho, chega-me a ser agustiante. Posso ouvir tudo
que há à minha volta e isso me causa certo temor. Dentro os pingos da
torneira da pia da cozinha, o ronco dos carros lá fora, cachorros
latindo, geladeiras funcionando, a caneta fulgás escorrendo no papel -
dentre todos esses, o barulho que predomina é o do silêncio. Silêncio!
Silêncio. É tudo tão vaziamente completo nessa atmosfera. Até os
objetos trabalharam para esse acontecimento. As sombras, as cores, os
não-movimentos. E é na falta de informação auditiva que os olhos
funcionam mais eficazmente, olhando com ligeireza as imagens
estataladas. O olhar trabalha tão profundamente nesse excesso de
quietude, que consegue enxergar até o que está dentro: a alma. E lá, é
mais confuso que aqui, nessa mesa bagunçada. Me pergunto se possível
isso seria sem esse indesejado (silêncio).

Descobri-me aguçar também o tato. Não consigo ver cores por ele mas, enxergo sim, alguma
coisa com as mãos. E de olhos fechados.

Que alegria confusa é o ser humano! O ser Leonardo!

No reflexo do vidro eu vejo o roxo na cara. É como se a mancha rubra
viesse condenar a banda podre que há em mim, agora. E nesse silêncio
sem fim, ela lateja, gritando alguma coisa que eu não entendo.

Um, dois, três mosquitos mortos. Essas criaturas chegaram pra acabar com o silêncio paz. Só sobrou o silêncio que fala demais.
Não sabia/sei mais escrever, não parava mais pra isso. Sinto que esse silêncio maldito me proporcionou remeter a mim...
Silêncio bendito.

E depois da folha toda rabiscada, eu me pergunto: o que ainda está em branco?
Um dia, em um novo velho silêncio, eu talvez escreva isso.

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